Alexandre, o Grande |
Para mim, a pessoa mais feliz que existiu à face da Terra talvez tenha sido Diógenes. E este homem era apenas e só... um mendigo.
Diógenes foi um filósofo, da Grécia antiga, bastante controverso, que decidiu tornar-se mendigo. A sua filosofia consistia no seguinte: a felicidade reside no autodomínio e liberdade. Diógenes desprezava a opinião pública e combatia as instituições e os valores sociais de uma sociedade que ele considerava corrupta (muito actual, não concordam?...).
Passemos então à situação que ocorreu entre Diógenes e o Imperador Alexandre, o Grande...
Diógenes e os seus amigos |
Alexandre, o Grande e Diógenes |
- Ouve só o disparate que este homem está a dizer! Quer ser Diógenes na próxima vida! Porquê na próxima vida? De que serve adiar? Quem sabe o que virá na próxima vida? Até mesmo o dia de amanhã, até o momento seguinte, é incerto, quanto mais a próxima vida! Se queres mesmo ser Diógenes, podes sê-lo aqui e agora. Atira a tua roupa ao rio e esquece a conquista do mundo! Isso não passa de uma estupidez , como tu bem sabes.
» Admites que és infeliz e que ser Diógenes é um estado melhor, que te deixaria em êxtase. Então, porque não ser Diógenes agora mesmo? Deita-te na margem do rio, aqui onde eu estou a apanhar sol! Há lugar para mais uma pessoa.
É claro que Alexandre não pôde aceitar o convite. Ele disse:
- Muito obrigado pelo convite; agora não posso, mas na próxima vida...
E Diógenes perguntou-lhe:
- Onde vais? O que farás, mesmo que conquistes o mundo?
- Então, descansarei - respondeu o imperador.
- Isso parece-me absurdo, porque eu estou a descansar agora mesmo! - respondeu Diógenes.
Diógenes tinha razão.
Na realidade, Alexandre, o Grande conquistou todo o Mundo civilizado naquela época mas, sabem o que fez depois de o conquistar? Após ver a vastidão que o seu império alcançava, Alexandre chorou, pois não havia mais mundos para conquistar... Isto diz tudo.
As pessoas mais infelizes são as que têm sucesso... isto não nos ensinam nas escolas. Se não acreditam, atentem nessas pessoas... Vejam o acumular de stress, medo, desconfiança e de ambição desmesurada. Com toda essa panóplia de emoções, vem a mesquinhez, a inveja e a agressividade.
Nem a propósito de falar sobre isso... Ainda ontem, aqui no Bairro do Granito, duas senhoras foram atropeladas e em seguida esfaqueadas.Uma delas veio a falecer. Sabem quem foi o autor desse massacre? Foi, nada mais, nada menos do que... o seu irmão. Tudo por causa de partilhas, dinheiros, imóveis, essas coisas todas. Veja-se até que ponto pode chegar o desespero de alguém infeliz que o leva não só a matar, como a fazê-lo aos do seu próprio sangue.
O autor do livro do qual eu retirei a história entre Diógenes e Alexandre, diz que nada fracassa tanto como o sucesso. Para o autor, a felicidade não tem nada que ver com o dinheiro, poder ou prestigio. A felicidade tem que ver com consciência e carácter. Vejo-me na obrigação de concordar com esta ideia.
Realmente... Já viram que se não houvesse ambição, poder, dinheiro, prestígio, também não teríamos a inveja, medo, desconfiança, etc... Certamente não precisaríamos de alguém a liderar-nos, não precisaríamos de forças de segurança, justiça, etc. Apenas seríamos felizes.
Ficar em 1º Lugar numa competição não nos torna felizes
Enquanto joguei futebol, ganhei imensas vezes, venci torneios, jogos e prémios, mas também houve vezes em que perdi. Quando a minha equipa vencia, a felicidade durava apenas alguns minutos ou escassas horas, mas a frustração de perder, essa durava dias, e por vezes, semanas. E aqui não está em causa saber perder ou ganhar, essa é outra questão; o que está em causa é a tremenda importância que nos ensinam, desde pequeninos, a atribuir às vitórias, fazendo-nos crer que a vitória é significado de felicidade e a derrota infelicidade... Se assim é, quando vencemos não nos deveríamos tornar felizes? Então porque é que isso não ocorre?
Ainda hoje guardo alguns troféus em casa que me servem, única e exclusivamente, para eu me poder gabar perante o meu sobrinho, e recordar que em tempos os ganhei e que nada ganhei depois de os conquistar.
A sociedade obriga-nos a ser ambiciosos, torna-nos invejosos e infelizes... prende-nos, corrompe-nos, torna-nos violentos e intolerantes... nada mais. Passamos 90% do dia a realizar tarefas que detestamos, que não nos dão prazer. Por que é que fazemos isso, já pensaram?
Somos infelizes porque nos focamos no Passado e no Futuro e não vivemos o Presente
Se repararmos, a fonte da nossa infelicidade provém da nossa ambição, daquilo que queremos alcançar no futuro, assim como da frustração de sabermos o que fomos ou tivemos no passado. Se nos focássemos simplesmente em viver o presente, seríamos definitivamente mais felizes. Viver o agora sem nos preocuparmos com o que vem a seguir. O que o futuro nos reserva não é controlável, aquilo que também já passou não o é. Então para quê preocuparmo-nos com isso?!
Por exemplo, quem é que já não se preocupou com um exame que vem na semana que vem? Se é na semana que vem que se faz o exame, porquê estarmos já a preocuparmo-nos com isso?
Outro exemplo, se há dois anos tínhamos mais dinheiro do que agora, para quê preocuparmo-nos com o facto de agora não termos tanto como antigamente? Se já tivemos, significa que já não temos!...
O intuito das notícias é o de nos meter medo e tornar-nos pessoas medrosas, preocupadas e mais facilmente controláveis
Sim, é isso mesmo. As notícias só servem para nos incutir medo e tornar-nos facilmente controláveis( porque eles nos mostram apenas a sua versão da realidade e nós partimos do princípio que isso corresponde à verdade, pelo que não temos saída possível...). Por conseguinte, tornamo-nos mais agressivos e infelizes, e somo levados a acreditar que não temos controlo nenhum sobre as nossas vidas (e, consequentemente, sobre a nossa felicidade).
Vejamos, uma pessoa com medo significa que se tornou dependente, não só do seu medo mas também de algo ou de alguém. Os nossos governantes preferem que as pessoas tenham medo para que assim se preocupem com os seus medos e deixem de se preocupar com o que eles (os governantes) fazem. Veja-se isso como uma distracção, um chamariz para nos desviarem a atenção, mantendo-nos preocupados com aquilo que são os "não problemas". As pessoas angustiosas e com medo acabam por arranjar um escape que lhes colmate esse medo, acabando por se refugiarem no consumismo desmesurado só para se sentirem melhor. Pessoas com medo preparam-se para o pior, trancam portas e janelas e desconfiam de tudo e todos. Assim, os cordeirinhos estão prontos para serem guiados até ao matadouro. A comunicação social é um excelente meio para nos controlar sem que nos apercebamos disso. É exactamente o que os nossos governantes querem. No fundo, eles querem indicar-nos o caminho para a felicidade deles, dizendo que é para a nossa... E nós acreditamos.
O que se torna também num problema é nós acreditarmos que no mundo só existem pessoas más e violentas, e com isso acabamos mesmo por atrair esse tipo de pessoas. Chama-se a isso a lei da atracção. Nós atraímos aquilo em que acreditamos. Cá está, se nos achamos infelizes, acabamos por nos tornar infelizes.
(No fundo, no fundo, esta é a minha sina... eu só atraio atrasados mentais)
O papel da publicidade é tornar-nos infelizes, ambiciosos e invejosos
Eu estou muito bem a ver televisão, até que surge a publicidade... Mostram-nos tudo aquilo que poderíamos ter, ou ser, se tivéssemos dinheiro para comprar determinado produto. Simultaneamente, fazem-nos sentir uns infelizes e insatisfeitos... Depois, mostram-nos as pessoas muito alegres a ostentar o produto que se publicita, como que dizendo, "compra isto e serás feliz!". Todo este esquema da sociedade nos tolda o raciocínio e as ideias, e somos levados a sentirmo-nos infelizes por não poder ter muitas coisas. Será que nos tornaríamos realmente felizes se as tivéssemos?! Esta resposta pode ser respondida por quem compra o objecto desejado ou obtém a posição no emprego que tanto pretendia. Eu já provei a mim próprio que aquilo que pensei que me iria tornar feliz, não o fez. E vocês?
Talvez por tudo isto, e por nos terem tornado viciados na infelicidade, se tenha o hábito de dizer que "a melhor vingança é ser-se feliz". Pois, é exactamente a felicidade que nos é quase impossível de alcançar, e a culpa é só nossa.
Se conseguisse chegar a alguém, gostaria de passar a mensagem de que tudo o que não é controlado por nós, não deveria interferir na nossa felicidade. A felicidade é uma escolha e todos nós temos a capacidade de poder escolher. Nunca deveríamos permitir que nos impinjam metas e/ou objectivos com o pretexto de que é isso que nos tornará felizes. A escolha deverá ser sempre nossa.
Termino, recordando Diógenes... Ele acreditava que tínhamos muito que aprender com os animais - especialmente os cães -, e essa é uma grande verdade. Os animais são felizes e nada possuem, a única coisa que querem mesmo é ser felizes.