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Aqui está o 25 de Abril na sua plenitude
"Nove em dez empregos novos são precários."
Título de JORNAL DE NOTÍCIAS - 25/4/2010
Como já tinha escrito, o verdadeiro 25 de Abril ainda não se deu. Talvez tenha ocorrido para os empresários, os que são patrões. Hoje em dia, escusam-se com a crise (seja lá o que ela for), para "pressionar" os trabalhadores: "Epá isto está difícil... Está complicado ter dinheiro para vos pagar. Vamos ter que trabalhar mais para ver se se consegue." Este é só um exemplo até muito "soft" porque a relação do patrão com o empregado é feita com arrogância e maior violência psicológica, do género: "Se não fazes, vais-te embora e o que não falta aí é gente para entrar." ou "Hoje em dia já não há empregos fixos.".
Já estive em alguns empregos em que, de 3 em 3 meses, se mudava o nome à empresa e, com essa mudança, vinha a história do "isto está mal, começámos agora..." e depois aumentavam a carga horária e diminuíam o vencimento. Diminuiram-me o vencimento por 4 vezes; foram as vezes que a empresa mudou de nome.
Trabalhei no Intermarché de Évora, na secção de líquidos (vinhos, cervejas, bebidas brancas, águas, sumos de pacote, sumos de garrafa, etc.) e quando chegava a minha hora de sair era pressionado para ficar a fazer mais horas [com a tal chantagem de se poder perder o emprego e "há outros que fazem"], horas essas que já me tinham avisado de antemão que não iriam ser pagas. Mas pasmem-se, nessa secção era para estarem a trabalhar 3 pessoas, mas não estavam, estava só uma pessoa, eu. Como eu queria conservar o meu posto de trabalho, sentia-me mal (com a consciência) se não ficasse, mesmo sabendo que não iria receber por isso. Uma das vezes cheguei menos do que 5 minutos atrasados e o meu patrão perguntou-me se aquilo é que eram horas de chegar. Expliquei-lhe que tinha saído 2 horas depois do meu horário na véspera, ao que ele simplesmente me respondeu que não lhe interessavam as horas a que eu saía, mas sim às que eu entrava...
Hoje em dia, o empregado é um escravo que só ali está para ser usado, uma e outra vez até à exaustão.
Ainda me fizeram outra. Como eu tenho uma vida de pobre e com algumas dificuldades, montaram-me uma cilada (que saiu furada). Mandaram-me para o corredor dos vinhos e das bebidas brancas e lá encontrei uma carteira de senhora (enorme). Agarrei nela e, sem demoras, levei-a ao balcão de informação, entregando-a. Obviamente, nem a abri; se calhar, se fosse na rua, fazia-o para ver de quem era. Mais tarde, vim a saber, por um rapaz que se tornou meu amigo e que trabalhava na vídeo-vigilância, que essa situação da carteira tinha sido montado pelo patrão... Tudo isto porque alguém andava a comer donuts das "quebras" (quando a embalagem está aberta ou tem o produto danificado, coloca-se numa zona designada por zona das quebras) e o principal suspeito era eu. Portanto, está aqui mais um exemplo prático de como tudo funciona: se formos pobres, somos ladrões.
Lá se veio a descobrir que afinal quem andava a comer os donuts era uma rapariga (Romena) da limpeza porque recebia mal e não tinha muito que comer. Em vez de um "ralhete" despediram a rapariga. Em Portugal não há pedagogia. Essa palavra é o mesmo que mostrar a cruz ao Diabo. As senhoras da limpeza (as Romenas) diziam-me que mais valia não terem saído do seu País, pois aqui era igual, senão pior, nem sabiam bem.
Obviamente que quem se queixa é quem recebe os extraordinários salários de 450€. Dos 600 € para cima poucos ou nenhuns falam... Pudera, ainda podem perder o que têm. Usamos muito aquela máxima "Com o mal dos outros posso eu bem".
25 de Abril? Sim, sempre... Sempre que acontecer, quando acontecer um a sério... Até lá, posso já não estar cá.
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